sexta-feira, 6 de julho de 2007

No Caminho com Maiakóvski


"No caminho com Maiakóvski"

O lindo poema com esse título, na verdade não é de autoria do grande poeta russo Maiakóvski.
Inúmeras vezes confundido como sendo do próprio é na verdade de outro poeta, o brasileiro Eduardo Alves da Costa.

Esse equívoco que perdurou por três décadas, foi resolvido por uma personagem de novela.
Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, o poema "No Caminho, com Maiakóvski" era costumeiramente creditado ao russo Vladimir Maiakóvski .
E assim foi estampado em camisetas na época das Diretas-Já. Transformou-se em símbolo da luta contra a ditadura militar.
Quando a personagem da atriz Cristiani Torloni, durante o capítulo de uma novela leu um trecho do poema dando o crédito correto, a controvérsia foi reacesa e as dúvidas foram dirimidas em horário nobre, em capítulo posterior.

"O engano surgiu quando o poema saiu em jornais universitários, nos anos 70.
O Psicanalista Roberto Freire publicou num dos seus livros e deu crédito ao russo, me colocando na qualidade de tradutor"
, diz Eduardo Alves da Costa.
Eis o poema:
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
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